sexta-feira, 27 de julho de 2007

Uma das coisas boas que se vive quando se vai para fora, é o contacto com outras pessoas que também estão a viver uma experiência do género da nossa. Pessoas com origens, culturas e valores muitas vezes diferentes, mas geralmente pessoas com quem acabamos por sentir alguma coisa em comum, talvez porque, apesar de apenas 6 meses, já começamos a fazer amigos, ganhar rotinas e vencer as primeiras dificuldades de adaptação, especialmente no nosso caso, em que estivemos de alma e coração, 100% envolvidos nesta experiência.
O ambiente multicultural (também tive a sorte de conhecer um bocado o ambiente de província do sul dos EUA) ajuda-nos a ver com outros olhos pessoas que são diferentes de nós, a gostar de conhece-las pelo que elas são individualmente e não pelo grupo a que pertencem. Penso que esta noção ultrapassa o ambiente americano, onde muitas vezes a identificação individual faz se pela pertença a grupo A ou B (tenho uma história engraçada a este respeito que conto mais a frente).
Não sei se pela maior mobilidade das pessoas, mais facilmente alguém mete conversa connosco para perguntar de onde somos, o que achamos das coisas nos EUA, ou só para dizer, como fizeram com a minha mulher várias vezes no autocarro, que o "vestido é muito giro, onde comprou?"
Todo este ambiente faz pensar... que é importante viver a nossa vida, não só usando mas principalmente interagindo com o que está a nossa volta; que todas as nossa acções e ideias tem consequências e nunca são absolutamente boas nem absolutamente más, sendo por isso muito importante pensar quais serão as repercussões daquilo em que acreditamos e daquilo que fazemos; que ganhamos sempre mais em estarmos abertos aos outros e ás diferentes culturas, experiências e aspirações de pessoas como nós. E para nós também foi importante perceber que é saudável e desejável criar o difícil equilíbrio entre crenças, medos pensamentos, ou melhor: razão, fé e medo. Porque qualquer dos três vai estar sempre presente e vai tentar influenciar o que somos e o que fazemos.
Num seminário sobre tolerância, foi perguntado a um grupo de pessoas, como se identificam individualmente? Cada uma das pessoas respondeu separadamente: os Americanos responderam todos coisas do género "sou afro americano, tenho 3.. anos" ou "sou latino, etc" ou ainda "sou mulher, ...", entre outras respostas. Os de outros países, quase todos de sociedades mais normalizadas e menos multiculturais responderam "sou a Joana, tenho ... gosto de fazer desporto", ou coisas do género. É engraçado como a identificação se fez pela pertença a este ou aquele grupo, que não só parcialmente define como potencialmente protege, na luta por direitos sociais, políticos assim como na simples sensação de pertença a uma "família". Talvez isto ajude a explicar as formas de manifestação de grupos minoritários em sociedades mais normalizadas.

2 comentários:

Anónimo disse...

Achei muito interessante este testemunho, como é que achas que um grupo como a Aura do Sul se poderia identificar se faz pertença a este ou aquele grupo “que não só parcialmente define como potencialmente” deve “protege, na luta por direitos sociais, políticos assim como na simples sensação de pertença a uma "família". Como poderíamos transpor isto para Portugal, será que é benéfico???

Anónimo disse...

Gostei muito do testemunho, agora pergunto:

Será que deveremos fazer o mesmo? Será que deverá ser esse o caminho?